segunda-feira, 26 de agosto de 2013

B.062.Balada de Madame Frigidaire - Belchior

Ando pós-modernamente apaixonado pela nova geladeira. Primeira escrava branca que comprei, veio e fez a revolução. Esse eterno feminino do conforto industrial injetou-se em minha veia, dei bandeira! e ao por fé nessa deusa gorda da tecnologia gelei de pura emoção! Ora! desde muito adolescente me arrepio ante empregada debutante. Uma elétrica doméstica então... Que sex-appeal! Dá-me o frio na barriga! Essa deusa da fertilidade, ready made a la Duchamp, já passou de minha amante Virou super-star, a mulher ideal, mais que mãe, mais que a outra... Puta amiga! Mister Andy, o papa pop, e outro amigo meu xarope se cansaram de dizer: Pra que Deus, Dinheiro e Sexo, Ideal, Pátria, Família pra quem já tem frigidaire? É Freud, rapaziada! Vir a cair na cantada dum objeto mulher. Eu me confundo, madame! E a classe média que mame se o céu, a prazo, se der! Que brancorno abre e fecha sensual dessa Nossa Senhora Ascéptica! Com ela eu saio e traio a televisão, rainha minha e de vocês. Dona frigidaire me come... But no kids double income! Filho compromete a estética! Como Edipo-Rei momo, como e tomo tudo dela... Deleites da frigidez! Inventores de Madame Frigidaire, peço bis! Muito obrigado! Afinal, na geladeira, bem ou mal, pôs-se o futuro do país. E um futuro de terceira, posto assim na geladeira, nunca vai ficar passado. Queira Deus que no fim da orgia, já de cabecinha fria, eu leve um doce gelado! Mister Andy, o papa pop, e outro amigo meu xarope, se cansaram de dizer: - Pra que Deus, Dinheiro e Sexo, Ideal, Pátria, e Família pra quem já tem frigidaire? É Freud, rapaziada! Vir a cair na cantada dum objeto mulher... Mas que trocadilho infame! La vraie Ballade des Dames du Temps Jadis... au contraire!

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