sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

G.083.Galope a Beira Mar - Luciano Maia/Messias Batalha


Abrindo os espaços da longa memória
Escuto uma voz do relembro que abala
O acento matuto do gesto e da fala
Da lenda-epopéia de canto de história
Revejo os avós, seu tempo de glória
Caminhos-tão noite do seu cavalgar
Amor-utopia do chão secular
Da casa do alto, da velha roeira
Lembrança agalope, roçando ligeira
As crinas do vento da beira do mar

Manha ainda noite, linguagem ronceira
Dos que se levantam de todos bem antes
A fala ofegante dos velhos feirantes
Levando à cabeça seus potes à feira
O berro-bezerro lembrando a porteira
A hora de ter ao curral e tirar
Da mãe todo o leite e deixa-lo a sugar
As tetas vazias da vaca tão mansa
E a flor-catavento que gira e descansa
Na brisa lembrança da beira do mar

Mourão, pau-a-pique, curral, boi de raça
Fogueira estalando na marca dos ferros
O laço certeiro, a derriba e os berros
Subindo ao abafo da preta fumaça
Os goles no alpendre da boa cachaça
Tropel de novilhos voltando ao seu lar
A fala arrastada dos velhos a dar
As mostras de quem quando moço gozou
Das mesmas delícias e o tempo passou
Mas canta e relembra na beira do mar

Soveta, serrote, mourão e martelo
Quadrão oitabado, galope e sextilha
Emprego na lavra da rima que é filha
Do verso esculpido, moldado a cutelo
Navego a distância entre o feio e o belo
E nessa viagem persigo encontrar
Enfim o poema que sirva par
Ao canto formoso da mãe-natureza
Mas não alcançando tambem beleza
Consolo o meu verso na beira do mar

Caminhos cruzados a força dos dias
Que fazem-se noites, por longe demais

Exílio dos ventos que agitam varais
E as asas tão leves das aves esguias
A volta ilusória, nas fotografias
Sem tempo, sem fala, sem nada guardar
Do hoje, encerrado no nunca encontrar
O outrora deixado por trás da barranca
Do rio que passa por nós e destranca
As portas dos olhos na beira do mar

Tinindo as esporas ao vento que arde
Cavalo e vaqueiro, de sela e gibão
São donos da lenda do boi barbatão
Que a morte alcançou no lonbo da tarde
Herói sem notícia, sem fama ou alarde
Virou velho e mudo, prefere calar
A história hoje ingênua do seu campear
Nas longas chapadas dos tempos de outrora
Já tendo por isso até vindo embora
Findar seu galope na beira do mar

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