sexta-feira, 31 de maio de 2019

T.072.Testamento - Toquinho/Vinicius de Moraes


Você que só ganha pra juntar
O que é que há, diz pra mim, o que é que há?
Você vai ver um dia
Em que fria você vai entrar

Por cima uma laje
Embaixo a escuridão
É fogo, irmão! É fogo, irrnão!

Falado

Pois é, amigo, como se dizia antigamente, o buraco é mais embaixo...
E você com todo o seu baú, vai ficar por lá na mais total solidão,
pensando à beça que não levou nada do que juntou:
só seu terno de cerimônia. Que fossa, hein, meu chapa, que fossa...

Cantado

Você que não pára pra pensar
Que o tempo é curto e não pára de passar
Você vai ver um dia, que remorso!

Como é bom parar
Ver um sol se pôr
Ou ver um sol raiar
E desligar, e desligar

Falado

Mas você, que esperança... Bolsa, títulos, capital de giro, public relations
(e tome gravata!), protocolos, comendas, caviar, champanhe
(e tome gravata!),
o amor sem paixão, o corpo sem alma, o pensamento sem espírito

Cantado

Você que só faz usufruir
E tem mulher pra usar ou pra exibir
Você vai ver um dia
Em que toca você foi bulir!
A mulher foi feita
Pro amor e pro perdão
Cai nessa não, cai nessa não

Falado

Você, por exemplo, está aí com a boneca do seu lado, linda e chiquérrima,
crente que é o amo e senhor do material. É, amigo, mas ela anda longe,
perdida num mundo lírico e confuso, cheio de canções, aventura e magia.
E você nem sequer toca a sua alma. É, as mulheres são muito estranhas,
muito estranhas

Cantado

Você que não gosta de gostar
Pra não sofrer, não sorrir e não chorar
Você vai ver um dia
Em que fria você vai entrar!

Por cima uma laje
Embaixo a escuridão
É fogo, irmão! É fogo, irmão!

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