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quinta-feira, 30 de novembro de 2017
O.072.O poeta aprendiz - Toquinho/Vinicius
Ele era um menino valente e caprino,
Um pequeno infante, sadio e grimpante.
Anos tinha dez e asas nos pés.
Com chumbo e bodoque era plic e ploc.
O olhar verde-gaio, parecia um raio
Para tangerina, pião ou menina.
Seu corpo moreno vivia correndo,
Pulava no escuro não importa que muro,
Saltava de anjo melhor que marmanjo
E dava o mergulho sem fazer barulho.
Em bola de meia, jogando de
Meia-direita ou de ponta,
Passava da conta de tanto driblar.
Amava era amar:
Amava sua ama nos jogos de cama.
Amava as criadas varrendo as escadas,
Amava as gurias da rua, vadias.
Amava suas primas com beijos e rimas.
Amava suas tias de peles macias.
Amava as artistas das cine-revistas.
Amava a mulher a mais não poder.
Por isso fazia seu grão de poesia
E achava bonita a palavra escrita.
Por isso sofria de melancolia,
Sonhando o poeta que quem sabe
Um dia poderia ser
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Letra O,
Toquinho,
Vinícius de Moraes
O.071.Onde a dor não tem razão - Elton Medeiros/Paulinho da Viola
Canto
Pra dizer que no meu coração
Já não mais se agitam as ondas de uma paixão
Ele não é mais abrigo de amores perdidos
É um lago mais tranqüilo
Onde a dor não tem razão
Nele a semente de um novo amor nasceu
Livre de todo rancor, em flor se abriu
Venho reabrir as janelas da vida
E cantar como jamais cantei
Esta felicidade ainda
Quem esperou, como eu, por um novo carinho
E viveu tão sozinho
Tem que agradecer
Quando consegue do peito tirar um espinho
É que a velha esperança
Já não pode morrer
O.070.O tempo não apagou - Paulinho da Viola
o vento na madrugada soprou
Trazendo alívio pro meu sofrimento
Sentindo a falta do meu grande amor
Eu segurei minha dor em silêncio
Amanheceu e o sol reforçou
Aquele fogo queimado em meu peito
A ilusão já se desfez e ainda restou
Teu nome em chamas no meu pensamento
Só ficou a impressão de um belo sonho
Que surgiu e de repente terminou
Enquanto houver essa saudade no meu peito
Só me resta lançar ao vento a minha dor
O.069.O que será - Chico Buarque
O que será que me dá que me bole por dentro
Será que me dá
Que brota a flor da pele será que me dá
E que me sobe as faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo me faz implorar
O que não tem medida nem nunca terá
O que não tem remédio nem nunca terá
O que não tem receita
O que será que será
Que dá dentro da gente que não devia
Que desacata a gente que é revelia
Que é feito aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos toda alquimia
Que nem todos os santos será que será
O que não tem descanso nem nunca terá
O que não tem cansaço nem nunca terá
O que não tem limite
O que será que me dá
Que me queima por dentro será que me dá
Que me perturba o sono será que me dá
Que todos os ardores me vem atiçar
Que todos os tremores me vem agitar
E todos os suores me vem encharcar
E todos os meus nervos estão a rogar
E todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz suplicar
O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem governo nem nunca terá
O que não tem juízo
O.068.Odara - Caetano Veloso
Deixa eu dançar
Pro meu corpo ficar Odara
Minha cara
Minha cuca ficar Odara
Deixa eu cantar
Que é pro mundo ficar Odara
Pra ficar tudo jóia rara
Qualquer coisa que se sonhara
Canto e danço que dará
O.067.Os mistérios da paixão - Cláudio Mourão/Paulinho Pedra Azul
A paixão é um bichinho que muda de pele
Ele entra bem dentro da gente
Fica atento e não quer sair nunca mais
Revira tudo pelo avesso
E nesse mistério, me toma do carinho
Não me deixa encontrar o caminho
E eu, irado pela dor da emoção
Me perco, virando a cabeça
E vejo estrelas passando em meus olhos
E suplico ao amor mais profundo
Pra que venha me tirar da ilusão
Desse mundo
Que me afoga e me faz pequeno
Feito um grão de areia que
Saiu da terra pra ficar no tempo,
Solto na poeira
O.066.O pedido - Elomar Figueira Mello
Já que tu vai lá pra feira
traga de lá para mim
Água da fulô que cheira,
Um novelo e um carrim
Traz um pacote de miss
Meu amigo Ah! Se tu visse
Aquele cego cantador
Um dia ele me disse
Jogando um mote de amor
Que eu havera de viver
Por este mundo e morrer
Ainda em flor
Passa naquela barraca
Daquela mulé resera
Onde almoçamo paca,
Panelada e frigideira
Inté você disse uma loa
Gabando a bóia boa
Das casas da cidade
Aquela era a primeira
Traz pra mim umas brevidades
Que eu quero matar a saudade
Faz tempo que eu fui na feira
Ai saudade...
Ah! Pois sim, vê se não esquece
D'inda nessa lua cheia
Nós vai brincar na quermesse
Lá no riacho d'areia
Na casa daquele homem,
Feiticeiro curador
O dia inteiro é homen
Filho de Nosso Senhor
Mas dispois da meia noite
É lobisomem comedor
Dos pagão que as mãe esqueceu
Do Batismo salvador
E tem mais dois garrafão
Com dois canguim responsador
Ah! Pois sim vê se não esquece
De trazê ruge e carmim
Ah! Se o dinheiro desse
Eu queria um trancelim
E mais três metros de chita
Que é pra eu fazê um vestido
E ficar bem mais bonita
Que Madô de Juca Dido,
Zefa de Nhô Joaquim
Já que tu vai lá pra feira
Meu amigo, tras essas coisinhas
Para mim.
O.065.O sonho terminou - Elias Muniz
Chega de sofrer
Chega de chorar
Já tentei de tudo mas não dá
Você desfez de mim
Não quis o meu amor
O que sinto por você não tem valor
Acabou, eu vou me libertar
Cansei de me entregar, sem nada a receber
Acabou, o sonho terminou
Você me magoou, preciso te esquecer
Chega de você
Chega de sonhar
O seu coração não sabe amar
Foi só desilusão
Machucou meu coração
Mas um novo amor vou encontrar
Acabou, eu vou me libertar
Cansei de me entregar, sem nada a receber
Acabou, o sonho terminou
Você me magoou, preciso te esquecer
Chega de você
Chega de sonhar
O seu coração não sabe amar
Foi só desilusão
Machucou meu coração
Mas um novo amor vou encontrar
Acabou, eu vou me libertar
Cansei de me entregar, sem nada a receber
Acabou, o sonho terminou
Você me magoou, preciso te esquecer
Acabou, eu vou me libertar
Cansei de me entregar, sem nada a receber
Acabou, o sonho terminou
Você me magoou, preciso te esquecer
O.064.O que eu sinto é amor - Piska/João Gabriel
Fugi do seu olhar tentando me afastar
E veja só como estou
Outra vez tentei ficar sozinho
Não adiantou
Outras eu quis amar
Bocas que eu quis beijar
Não tinham o mesmo sabor
eu tentei mas de novo em meu peito
Você voltou
Mas meu coração pede pra te amar
Me deixa louco
Toda vez que vê você chegar
Pensei que era paixão sem valor
Mas o que sinto por você é amor
O que eu sinto, o que eu sinto
Agora eu sei é amor
O que eu sinto, o queeu sinto
Menina eu sei é amor.
O.063.O meu pecado - Zé Keti
Meu pecado foi querer na minha mocidade
Amar muitas mulheres
O tempo já passou
Eu sinto saudade
O meu pecado foi passar noites em serestas
E bebendo por aí
Pela cidade
Nem com dinheiro as mulheres
Já não me desejam mais
Ah, se eu soubesse
Voltaria ao meu tempo de rapaz
O meu pecado foi querer na minha mocidade
Amar muitas mulheres
O tempo já passou
Eu sinto saudade
O meu pecado foi passar noites em serestas
E bebendo por aí
Pela cidade
O.062.O monte olimpia - Zé Ramalho
Vou subir o monte, o monte olímpia
A morada dos deuses, a morada dos loucos
Das pessoas que embarcam todo dia para um escaler
Perdidos escombros dos ossos de quem quiser
Vou subir o monte num automóvel de luz
Num navio vicking, no cavalo de zorro
Na espessura de um couro esticado de um tamborim
Chegando no trono de zeus, eu digo o que quiser
Eu passo um telegrama para mamãe
Pedindo desculpas
Por minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa
Minerva agora é minha mãe
Mercúrio é meu primo
E tenho hércules e aquiles como meus irmãos
O.061.O que é que a Baiana tem?
O que é que a baiana tem?
Que é que a baiana tem?
Tem torço de seda, tem! Tem brincos de ouro, tem!
Corrente de ouro, tem! Tem pano-da-Costa, tem!
Tem bata rendada, tem! Pulseira de ouro, tem!
Tem saia engomada, tem! Sandália enfeitada, tem!
Tem graça como ninguém
Como ela requebra bem!
Quando você se requebrar Caia por cima de mim
Caia por cima de mim
Caia por cima de mim
O que é que a baiana tem?
Que é que a baiana tem?
Tem torço de seda, tem! Tem brincos de ouro, tem!
Corrente de ouro, tem! Tem pano-da-Costa, tem!
Tem bata rendada, tem! Pulseira de ouro, tem!
Tem saia engomada, tem! Sandália enfeitada, tem!
Só vai no Bonfim quem tem
O que é que a baiana tem?
Só vai no Bonfim quem tem
Um rosário de ouro, uma bolota assim
Quem não tem balangandãs não vai no Bonfim
Um rosário de ouro, uma bolota assim
Quem não tem balangandãs não vai no Bonfim
Oi, não vai no Bonfim
Oi, não vai no Bonfim
Um rosário de ouro, uma bolota assim
Quem não tem balangandãs não vai no Bonfim
Oi, não vai no Bonfim
Oi, não vai no Bonfim
O.060.Os Segredos de Sumé - Zé Ramalho
Quando as tiras do véu do pensamento
Desenrolam-se dentro de um espaço
Adquirem poderes quando eu passo
Pela terra solar dos cariris
Há uma pedra estranha que me diz
Que o vento se esconde num sopé
Que o fogo é escravo de um pajé
E que a água há de ser cristalizada
Nas paredes da pedra encantada
Os segredos talhados por sumé
Um cacique de pele colorida
Conquistou docilmente o firmamento
Num cavalo voou no esquecimento
Dos saberes eternos de um druida
Pela terra cavou sua jazida
Com as tábuas da arca de noé
Como lendas que vêm do abaeté
E como espadas de luz enfeitiçada
Nas paredes da pedra encantada
Os segredos talhados por sumé
Cavalgando trovões enfurecidos
Doma o raio lutando com plutão
Nas estrelas-cometas de um sertão
Que foi um palco de mouros enlouquecidos
Um altar para deuses esquecidos
Construiu sem temer a lúcifer
No oceano banhou-se na maré
E nas montanhas deflorou a madrugada
Nas paredes da pedra encantada
Os segredos talhados por sumé
Sacrifique o cordeiro inocente
Entre os seios da mãe-d’água sertaneja
Numa peleja de violas se deseja
É que o sol se derrube lentamente
Que a noite se perca de repente
Num dolente piado de guiné
Nos cabelos da ninfa salomé
Nos espelhos de tez enluarada
Nas paredes da pedra encantada
Os segredos talhados por sumé
O.059.Os Outros Romanticos - Caetano Veloso
Eram os outros românticos, no escuro
Cultuavam outra idade média, situada no futuro
Não no passado
Sendo incapazes de acompanhar
A baba Babel de economias
As mil teorias da economia
Recitadas na televisão
Tais irredutíveis ateus
Simularam uma religião
E o espírito era o sexo de Pixote, então
Na voz de algum cantor de rock alemão
Com o ódio aos que mataram Pixote a mão
Nutriam a rebeldia e a revolução
E os trinta milhões de meninos abandonados do Brasil
Com seus peitos crescendo, seus paus crescendo
E os primeiros mênstruos
Compunham as visões dos seus vitrais
E seus apocalipses mais totais
E suas utopias radicais
Anjos sobre Berlim
"O mundo desde o fim"
E no entanto era um SIM
E foi e era e é e será sim
O.058.Outro Retrato - Caetano Veloso
Minha música vem da
Música da poesia de um poeta João que
Não gosta de música
Minha poesia vem
Da poesia da música de um João músico que
Não gosta de poesia
O dado de Cabral
A descoberta de Donato
O fato, o sinal
O sal, o ato, o salto:
Meu outro retrato
O.057.Outras Palavras - Caetano Veloso
Nada dessa cica de palavra triste em mim na boca
Travo, trava mãe e papai, alma buena, dicha louca
Neca desse sono de nunca jamais nem never more
Sim, dizer que sim pra Cilu, pra Dedé, pra Dadi e Dó
Crista do desejo o destino deslinda-se em beleza:
Outras palavras
Tudo seu azul, tudo céu, tudo azul e furta-cor
Tudo meu amor, tudo mel, tudo amor e ouro e sol
Na televisão, na palavra, no átimo, no chão
Quero essa mulher solamente pra mim, mais, muito mais
Rima, pra que faz tanto, mas tudo dor, amor e gozo:
Outras palavras
Nem vem que não tem, vem que tem coração, tamanho trem
Como na palavra, palavra, a palavra estou em mim
E fora de mim
quando você parece que não dá
Você diz que diz em silêncio o que eu não desejo ouvir
Tem me feito muito infeliz mas agora minha filha:
Outras palavras
Quase João, Gil, Ben, muito bem mas barroco como eu
Cérebro, máquina, palavras, sentidos, corações
Hiperestesia, Buarque, voilá, tu sais de cor
Tinjo-me romântico mas sou vadio computador
Só que sofri tanto que grita porém daqui pra a frente:
Outras palavras
Parafins, gatins, alphaluz, sexonhei da guerrapaz
Ouraxé, palávoras, driz, okê, cris, espacial
Projeitinho, imanso, ciumortevida, vivavid
Lambetelho, frúturo, orgasmaravalha-me Logun
Homenina nel paraís de felicidadania:
Outras palavras
O.056.Oceano - Djavan
Assim!
Que o dia amanheceu
Lá no mar alto, da paixão
Dava prá ver, o tempo ruir
Cadê você?
Que solidão!
Esquecera de mim?
Enfim!
De tudo o que
Há na terra
Não há nada em lugar
Nenhum!
Que vá crescer
Sem você chegar
Longe de ti
Tudo parou
Ninguém sabe
O que eu sofri...
Amar é um deserto
E seus temores
Vida que vai na sela
Dessas dores
Não sabe voltar
Me dá teu calor...
Vem me fazer feliz
Porque eu te amo
Você deságua em mim
E eu oceano
E esqueço que amar
É quase uma dor...
Só! sei! viver!
Se! for! por! você!
O.055.Olhos Vermelhos - Guilherme Arantes
A moçada tá no cio
São donos da madrugada
Não dispensam um agito
No seu coração aflito
Sempre cabe outra emoção
Mini-saia da menina
O blusão de couro é rude
Sexo explode em cada esquina
O mundo vive a noite
Todo mundo espera tudo da noite
Nela tudo pode...
O mundo vive a noite
E a fera ruge...
Todo mundo espera tudo da noite
Todo mundo foge
(é da solidão)
De manhã nossa roupa espalhada no chão
Nossos olhos vermelhos
Conclusão:
De manhã nossa roupa espalhada no chão
Nossos olhos vermelhos
O.054.Ô Boy - Gonzaguinha
Eu quero eu quero
Que tutu te apaixones por mim
Eu quero eu quero
Que tutu se alucines por mim
E que me chame de gatinha manhosa
E que me chames de boneca gostosa
E que te entregues sempre
Muito tudo todo inteirinho pra mim
Ó boy
Que quero ser aquela felicidade
Que tutu não encontras
Nas vitrines da vida
Eu quero ser a pedra mais preciosa
A beleza da rosa
Tua flor preferida
Eu quero ouvir tutu gritá que mi ama
E como toda minina
Dismaiá de eomoção
Eu quero toda bobagem do amor
Botando fogo ni mim
E no meu coração
Pois do contrário não dá pé, não ponho fé
Não é bom pra mim, pra tutu, pra ninguém
Se não aquece enlouquecer eu te digo meu amigo
Que qualquer supermercado vende sempre muito bem
Ó boy.
O.053.O medo de amar é o medo de ser livre - Beto Guedes/Fernando Branti
O medo de amar é o medo de ser
Livre para o que der e vier
Livre para sempre estar onde o justo estiver
O medo de amar é o medo de ter
De a todo momento escolher
Com acerto e precisão a melhor direção
O sol levantou mais cedo e quis
Em nossa casa fechada entrar prá ficar
O medo de amar é não arriscar
Esperando que façam por nós
O que é nosso dever: recusar o poder
O sol levantou mais cedo e cegou
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